Nota pública do CFESS sobre o anúncio do ‘Auxílio Brasil’, programa de transferência de renda do governo federal

Sem diálogo com a sociedade civil e Congresso Nacional, Medida Provisória acaba com o Bolsa Família

Card escuro. texto: Problemas da MP Auxílio Brasil. Abaixo imagem colorida de pessoas representando a população usuária numa fila.

(Arte: Rafael Werkema/CFESS)

O Governo Federal apresentou na última segunda (9/8/2021) ao Congresso Nacional a Medida Provisória nº 1.061/2021, que revoga o Programa Bolsa Família e institui um novo programa de transferência de renda – Programa Auxílio Brasil – às famílias em situação de vulnerabilidade.

Entidades nacionais da área da assistência social, como o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas – clique para ler a nota) e o Fórum Nacional de Secretários de Estado de Assistência Social (Fonseas – clique para ler a nota), já manifestaram suas preocupações sobre o programa e alertaram, em especial, sobre a falta de diálogo e transparência do governo federal com os estados e municípios, tendo em vista que são eles que atendem e administram os programas socioassistencias.

O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) representa uma categoria de mais de 190 mil assistentes sociais que, historicamente, contribuem para a construção da Política de assistência social e para o fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas). Além disso, sempre levantou a bandeira em defesa de uma renda básica universal, sem condicionalidades, individual, redistributiva, que forneça proteção social a todos os brasileiros e brasileiras, possibilitando uma condição de vida digna às pessoas.

Nesse sentido, vem a público se manifestar e apontar alguns problemas e riscos imediatos acerca da Medida Provisória, listados a seguir:

1. O Auxílio Brasil se apresenta como um programa de governo e não como política de Estado, reforçando uma possível natureza clientelista e eleitoreira de um programa de transferência de renda;

2. Conforme denunciado pelo Congemas e pelo Fonseas, a elaboração e apresentação do Auxílio Brasil não passou por nenhum debate com os sujeitos que constroem cotidianamente a Política de assistência social, que operam e gerem os programas de transferência de renda nos municípios, reforçando a falta de diálogo e o caráter autoritário do governo;

3. O programa cria uma falsa expectativa de “ampliação da inclusão social”, omitindo que as medidas de ajuste fiscal e de congelamento de recursos para as políticas sociais, por meio da Emenda Constitucional 95/2016, impedem a ampliação de programas socioassistenciais, e, consequentemente, direitos para a população;

4. O texto do Auxílio Brasil propõe uma espécie de “bônus” para a pessoa beneficiária que conseguir emprego, reforçando uma visão conservadora e preconceituosa de que programas de transferência de renda estimulam o ócio, e também de que é responsabilidade individual do sujeito a condição de pobreza ou de buscar postos de trabalho, isentando o Estado de criar políticas de proteção social e de geração de trabalho, emprego e renda;

5. Fala-se ainda em incentivo ao microcrédito e ao empreendedorismo, num contexto de desemprego recorde no país, precarização das condições de trabalho e destruição dos direitos trabalhistas, maquiando a total incompetência do governo federal em estimular a criação de empregos formais para a população, além do risco de endividamento da classe trabalhadora;

6. Pela maneira como o Auxílio Brasil está sendo apresentado, sem transparência e diálogo, e com total indefinição sobre sua implementação, ele gera absoluta insegurança à população beneficiária do Programa Bolsa Família, que será revogado, sem que fique nítido se haverá migração automática dessas pessoas ao novo programa. Além disso, parece não atender a imensa fila de pessoas que aguardam para receber o Bolsa Família.

É importante destacar que esta é uma análise inicial do pouco que foi apresentado e divulgado até agora, e que a MP precisa ser alvo de estudo e debate mais aprofundando pelas entidades da sociedade civil.

Além disso, por se tratar de uma proposta de um governo cuja política adotada desde que assumiu é de destruição da seguridade social, vide os ataques à previdência social, à saúde e à assistência social, e de contrarreformas que retiram direitos da população, é preciso ligar o sinal de alerta para essa Medida Provisória que, como já dito, não passou pelo diálogo com a sociedade e com o Congresso Nacional, reforçando o viés autoritário do governo.

Assim, o CFESS vem reafirmar o compromisso do Serviço Social brasileiro em defesa de uma renda básica universal, que garanta condição de vida digna para a população brasileira, possibilitando acesso à moradia, alimentação, saúde, educação, e ressaltar a importância da mobilização da categoria de assistentes sociais contra os ataques aos direitos de toda população.

12ª Conferência Nacional de Assistência Social, prevista para ocorrer em dezembro deste ano, será um importante espaço para organização coletiva de trabalhadores e usuários contra os retrocessos na política de assistência social!

Conselho Federal de Serviço Social – CFESS

Gestão Melhor ir à Luta com Raça e Classe em defesa do Serviço Social (2020-2023)

Posted in Notícias.