“Tempo, tempo, tempo, tempo…” na cadência de um ritmo acelerado, por vezes descompassado, convidamos a fazer uma pausa para perceber o passado que está passando, que vai passar e… qual história teremos para contar? Convidamos a toda a categoria de assistentes sociais desse chão brasileiro para, nessa pausa, rememorar os feitos realizados no cotidiano profissional tão desafiador, tantas vezes desolador, imerso nas contradições da realidade, nos possibilitando também suas potências de rupturas.
“Antes que acabe o ano” de 2023, pedimos um pouquinho mais de tempo para refletir e sentir o que deixaremos com este ano que está finando e quais as sementes escolhemos para iniciar um novo plantio. Sim, nós sabemos que é apenas o fim de mais um ano, não é o fim dos tempos, mas ainda assim, precisamos fazer esse registro, “antes que acabe o ano”.
E por falar em tempo, nestes tempos em que “tudo agora mesmo pode estar por um segundo” e as respostas para todas as demandas precisam ser dadas ontem, nós queremos juntar as nossas vozes e comunicar mundo afora que nós não somos máquinas e que o nosso tempo não é o da produção em série, nem em massa.
Confira também o vídeo
Nós, assistentes sociais, realizamos um trabalho necessário para o Brasil, no qual a vida das pessoas não é mercadoria reduzida à quantitativos mensais, semelhante ao que se passa numa esteira de produção. Que esta era de desmontes das políticas públicas, de retomada do assistencialismo, orçadas sob um “novo arcabouço fiscal”, não nos impeça de levar para o cultivo do próximo ano, sementes de ânimo e coragem.
Reconhecemos, neste tempo, a retomada dos espaços de participação democrática do Estado brasileiro e evidenciamos as populações negras, os povos indígenas, a população LGBTQIA+ que sobreviveram a uma era genocida para os seus corpos-territórios. Fazemos questão de lembrar no assassinato de Mestre Moa do Katendê, todas as outras mortes violentas por motivações políticas que aconteceram neste espaço de tempo. O ódio como política, que também assassinou Marielle, Dom, Bruno, Mãe Bernadete e tantos outros lutadoras e lutadores do povo, de jovens negras/os e indígenas em becos e veredas. Lembramos também o assassinato de corpos LGBTQIA+ como da jovem Carol Câmpelo e da técnica de enfermagem Julia Nicoly.
Atenção, o tempo bolsonarista, expressão da crescente direita fascista, ultraconservadora, em todo o mundo, não acabou! Lembramos que esse ano de 2023 teve início com a posse presidencial acompanhada pela diversidade da classe trabalhadora brasileira, mas sete dias depois, assistimos ao ataque realizado contra a democracia brasileira também em Brasília, e está finalizando com as eleições de um presidente ultraliberal na nossa vizinha Argentina.
O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), extinto no primeiro dia de trabalho do ex-presidente Jair Bolsonaro, voltou! E com eles todos os esforços de alimentar as milhões de pessoas que voltaram a conviver com a fome.
Novos ministérios foram criados e pela primeira vez na história deste país temos uma ministra indígena. Mas, contraditoriamente, tivemos a criação do Departamento de Entidade de Apoio e Acolhimento Atuantes em Álcool e Drogas, na estrutura do MDS, destinando financiamento para as Comunidades Terapêuticas. Assim como diversas negociações com empresas multinacionais do ramo da produção de energia, também já foram realizadas sob o ímpeto farsante da transição energética que expropria territórios de povos e comunidades tradicionais e os bens comuns da natureza.
Mas como o tempo é rei, é rainha, e pode transformar as velhas formas do viver, ensinando o que ainda precisamos aprender, pausamos e dentre as outras sementes que estamos escolhendo para cultivar no ano que se avizinha, continuamos somando as lutas anticapitalistas, antirracistas, anticapacitistas, feministas, além de muitas mudas de plantas de democracia, esperança e de vida-liberdade. Todas elas precisarão do nosso trabalho e zelo para que possam brotar e dar bons frutos.
—
Conselho Federal de Serviço Social – CFESS
Gestão “Que nossas vozes ecoem vida-liberdade” (2023-2026)