Seminário debate o trabalho de assistentes sociais na política de assistência

Seminário debate o trabalho de assistentes sociais na política de assistência
Evento termina nesta quinta, em Fortaleza (CE), com transmissão pela internet

Imagem do grupo de maracatu que se apresentou no início do eventoMaracatu cearense abriu o evento nesta quarta-feira (foto: Rafael Werkema/CFESS)

Começou, nesta quarta-feira (1º), o 2º Seminário Nacional O trabalho do/a assistente social na política de assistência social, em Fortaleza (CE). O evento, realizado pelo CFESS e pelo CRESS-CE, reúne cerca de 1500 pessoas, dentre assistentes sociais, estudantes de Serviço Social e profissionais de outras áreas, para debater sobre os desafios e enfrentamentos diante dos retrocessos que a política de assistência vem sofrendo no país. O seminário é transmitido online e a filmagem está disponível no canal do CFESS no youtube (clique para assistir).

O evento teve início com a atividade cultural do Maracatu Solar, grupo musical cearense, que antecedeu o lançamento da Campanha de Gestão do Conjunto CFESS-CRESS 2017-2020  – Assistentes Sociais no Combate ao Racismo, atividade conduzida pela presidente do CFESS, Josiane Soares (clique aqui e saiba mais).

A primeira mesa do seminário trouxe o tema “Balanço da política de assistência social no contexto neoliberal”. Quem iniciou o debate foi o economista e professor do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB), Evilásio Salvador. O professor destacou, com dados recentes, a gravidade dos cortes e retrocessos na política de assistência social no país.

“Com o progressivo processo de captura do fundo publico pelo capital privado, precisamos, cada vez mais, fortalecer a organização da classe trabalhadora, na direção do desenvolvimento de uma sociedade não capitalista”, avaliou.

Imagem do professor Evilásio Salvador e da professora Ivanete Boschetti durante a mesaEvilásio Salvador e Ivanete Boschetti compuseram a primeira mesa (foto: Rafael Werkema/CFESS)

Também à mesa, a assistente social e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ivanete Boschetti, enfatizou a importância de a categoria lutar por uma proposta de assistência social sob uma perspectiva de luta e de garantia de direitos dos/as trabalhadores/as.

“Essa direção se forjou e se forja diariamente nas construções coletivas: estudos, reflexões, debates, militância, de modo a fortalecer e ampliar as conquistas da classe trabalhadora, e aí se incluem assistentes sociais, que, sabemos, têm suas condições de trabalho e remuneração cada vez mais precarizadas”, enfatizou a professora. Segundo Boschetti, assistentes sociais, na prática profissional, precisam negar as posturas que recusam direitos, nas normatividades instituídas pelo Estado. “Somos a única categoria que construiu coletivamente um projeto ético-político profissional e, por isso, não podemos seguir na direção de ações conservadoras e negadoras”, completou.

Homenagem e mais debates

Na parte da tarde, as atividades foram retomadas com a mesa de abertura do evento, após reorganização da programação. CFESS, CRESS-CE, ABEPSS e ENESSO destacaram a importância do 2º Seminário não só para a defesa da Política de Assistência Social em uma direção pública e  universal, mas também como espaço fundamental para reafirmar e fortalecer o trabalho da categoria nesta Política e, principalmente, para a defesa dos direitos da população. Nesse sentido, ficou nítida a necessidade de fortalecimento da organização dos trabalhadores e trabalhadoras do Suas nos fóruns regionais, estaduais e nacional, como estratégia de enfrentamento ao desmonte que a Política vem sofrendo em especial nos dois últimos anos.

Mesa de abertura com representantes do CRESS-CE, CFESS, Abepss e Enesso.Presidente do CFESS, Josiane Soares, fala durante a mesa de abertura (foto: Diogo Adjuto/CFESS)

Em seguida, o evento foi marcado por um momento de grande emoção e sensibilidade, com a homenagem à assistente social  e ex-conselheira do CFESS Marylucia Mesquita, que morreu em 2017. Conduzido pela assistente social e professora da UFRN Silvana Mara de Morais dos Santos, o momento resgatou a história de vida pessoal e profissional de Marylucia, enfatizando seu legado profissional e sua incansável luta nos espaços que militou, inclusive no Conjunto CFESS-CRESS, onde participou ativamente da Comissão de Ética e Direitos Humanos. “Marylucia presente!” bradou Silvana e todo o auditório ao final da homenagem.

A última mesa do dia discutiu as condições de trabalho da categoria na Política de Assistência Social e o Projeto ético-político profissional, apontando os desafios e as possibilidades de uma intervenção profissional pautada pela ética, pela qualidade dos serviços prestados e pela luta pela garantia dos direitos da classe trabalhadora.

A assistente social e professora da PUC-SP Raquel Raichelis destacou os impactos da agenda regressiva que o país vem sofrendo nos últimos anos na Política e, em especial, no trabalho da categoria. Segundo ela, se antes já se fazia uma crítica à focalização da Assistência Social e à sua lógica muitas vezes restritiva, a atual conjuntura aponta para um cenário de “ultrafocalização”.

Imagem da plenária durante a homenagem à assistente social Marylucia Mesquita.Após homenagem, público exclama: Marylucia Presente! (foto: Diogo Adjuto/CFESS)

Ela alertou para a disseminação de um discurso em que trabalhadores e trabalhadoras são responsáveis pelo déficit público e criticou a maneira como o estado trata, de forma privilegiada, por exemplo, as dívidas do grande capital (como mega empresas tiveram suas dívidas renegociadas) enquanto a população usuária do Programa Bolsa Família recebe convocações para ressarcimento. Por fim, Raichelis afirmou que não se faz política pública sem financiamento e sem condições de trabalho, e que o serviço social vem sofrendo acentuadamente com processos de “pejotização” e terceirização, onde trabalhadores e trabalhadoras assistentes sociais são subcontratados/as, em contratos na maioria das vezes temporários e precarizados/as, impactando nos serviços prestados à população, no acesso aos serviços e na saúde mental.

O encerramento da mesa e das atividades do primeiro dia de evento ficou por conta da assistente social e professora da Ufal (Alagoas) Rosa Prédes, que enfatizou que a precarização sofrida pela profissão é análoga ao que a população está vivenciando no seu cotidiano.  Debater condições éticas e técnicas de trabalho de assistentes socias, portanto,  seria muito mais do que falar de direitos da profissão apenas – significaria tratar de conquistas, como o acesso a serviços e benefícios da população usuária.

Imagem da mesa com as professoras Rosa Predes e Rachel Raichelis.Professora Rachel Raichelis fala na última mesa do primeiro dia do evento (foto: Diogo Adjuto/CFESS)

Ela também ressaltou que as mudanças na legislação trabalhista oficializaram o desmonte dos direitos de trabalhadores e trabalhadoras, que sofrem com essa conjuntura de autoritarismo em todos os âmbitos. Rosa também destacou que é preciso fazer a defesa da profissão dentro da Política de Assistência Social não em um sentido corporativista, mas de respeito aos saberes, particularidades, atribuições e contribuições do Serviço Social e de assistentes sociais. Para ela, questionar o tecnicismo e enfrentar imposições burocráticas no cotidiano profissional contribuem para a materialização do Código de Ética profissional. Por fim, ela ressaltou que, para além de lutar pela dignidade profissional, é fundamental lutar pela dignidade dos direitos da população.

Imagem do auditório lotado durante o primeiro dia de evento.Público lotou auditório durante o primeiro dia do evento (foto: Rafael Werkema/CFESS)

Conselho Federal de Serviço Social – CFESS

Gestão É de batalhas que se vive a vida – 2017/2020
Comissão de Comunicação
Diogo Adjuto – JP/DF 7823

Rafael Werkema – JP-MG 11732
Assessoria de Comunicação
comunicacao@cfess.org.br

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